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Francisco Das CHAGAS RODRIGUES DE BRITO

 
 
 
 
 

 

 

 

 
 
 
Classification: Serial killer
Characteristics: Rape - Sexual mutilation
Number of victims: 30 - 42
Date of murders: 1989 - 2003
Date of arrest: December 2003
Date of birth: 1965
Victims profile: Boys aged between 4 to 15 years
Method of murder: Strangulation - Stabbing with knife
Location: Maranhao/Para, Brasil
Status: Sentenced to 20 years in prison in one count in October 2006. Sentenced to 217 years in prison
 
 
 
 
 
 

Chagas já admite a emasculação

São Luís/MA, 27.04.2004 > nº 131

O gerente de Segurança Pública, Raimundo Cutrim, disse ontem que as investigações sobre as mortes de crianças confessadas pelo maníaco Francisco das Chagas estão chegando à segunda etapa, com o acusado fornecendo mais detalhes sobre os crimes. “Ele já admite a emasculação, mas não dá detalhes, nem conta o que fez com o órgão extirpado”, revelou o gerente. O maníaco, depois de confessar 29 crimes na ilha de São Luís e 12 em Altamira, no Pará, continua sendo inquirido na Delegacia de Homicídios.

Diariamente, Chagas presta depoimento e até agora não teria sido detectada nenhuma vinculação com seitas ou envolvimento de outras pessoas nos crimes. Ainda ontem, Raimundo Cutrim enviou ofícios ao secretário de Defesa Social e superintendente de Polícia Federal do Pará, informando as confissões feitas por Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, assumindo a autoria de 12 mortes de meninos em Altamira, naquele estado. Raimundo Cutrim frisou ainda que Chagas deve ir ao Pará, desde que receba autorização judicial, para prestar esclarecimentos, já que outras pessoas foram presas e até condenadas por crimes que ele confessou.
(O Estado do Maranhão, Polícia, p.8, 27/04)

Comissão vai investigar perfil de Francisco Chagas

Uma comissão de dois especialistas de São Paulo e dois médicos psiquiatras maranhenses começa a trabalhar, ainda esta semana, na avaliação do perfil de Francisco das Chagas, 34. A comissão é composta pelo diretor do Instituto Médico Legal de São Paulo e pela escritora Ilana Casoy, autora do livro Serial Killer e com os médicos Hamilton Raposo e Geraldo Melônio devem iniciar o trabalho de avaliação. A frieza demonstrada por Chagas quando confessou os crimes deixou os deputados da CPI impressionados. Diante disso, os parlamentares resolveram submeter o acusado a uma avaliação médica.
(O Imparcial, p.2, 27/04, Cássio Bezerra e Silvan Alves)

OEA quer reparação de danos às famílias dos meninos emasculados

Por recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos das OEA (Organização dos Estados Americanos), o secretário especial dos Direitos Humanos , Nilmário Miranda, vai iniciar um acordo com o governador José Reinaldo Tavares (PFL-MA) para reparação de danos dos “garotos emasculados do Maranhão”. A reunião será na próxima quinta-feira, em São Luís, um dia antes do prazo final dado pela comissão para que o Brasil iniciasse uma solução amistosa do caso.
(O Imparcial, p.2, 27/04, Cássio Bezerra e Silvan Alves)

Chagas pode ter assassinado mais de 40 crianças no MA e PA

A Polícia Federal vai acompanhar as investigações sobre mais de 40 assassinatos de garotos no Pará e no Maranhão. O maníaco Chagas, que confessou os crimes, pode estar envolvido no caso dos meninos de Altamira - mortos e mutilados nas décadas de 80 e 90. A polícia já gravou 18 horas de depoimento do mecânico Francisco das Chagas. Depois de confessar 29 assassinatos no Maranhão, ele disse ter matado 12 meninos no Pará, na época em que morava em Altamira, a 500 quilômetros de Belém. As vítimas tinham o mesmo perfil, eram meninos pobres. Quinze dos mortos foram mutilados. Ao assumir a autoria de 12 mortes no Pará, Francisco Chagas pode desencadear novas investigações sobre o caso dos meninos de Altamira. Foram 19 mortos entre 89 e 93. Quatro pessoas foram condenadas pelo assassinato de três garotos e mutilação de outros dois, em supostos rituais de magia negra. Valentina Andrade, acusada de comandar os crimes, foi inocentada.
(Jornal Pequeno, Polícia, p. 12, 27/04)

OAB acompanha o caso Chagas

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA, Pedro Jarbas da Silva, não tem a menor dúvida de que o mecânico Francisco das Chagas tem um desvio mental, entretanto acha que todos os crimes por ele assumidos são mesmo de sua autoria. Pedro Jarbas diz que a integridade física do suposto assassino está sendo mantida e que os depoimentos são prestados de livre e espontânea vontade. Indagado se o desvio mental não poderia levá-lo a uma fantasia, Jarbas da Silva diz que não, pois consegue provar tudo que diz.
(Jornal Pequeno, Conversa Franca, p.10, 27/04, Aquiles Emir)

 
 


 

Mecânico confessa 17 assassinatos de crianças no Maranhão

KÁTIA BRASIL da Agência Folha, em Manaus

28/03/2004

A Polícia Civil do Maranhão anunciou hoje ter elucidado o caso que ficou conhecido internacionalmente como "garotos emasculados do Maranhão" com base no depoimento do mecânico de bicicletas Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, 39.

Brito está preso preventivamente desde dezembro, acusado de matar Jonahtan Vieira dos Santos, 15. Segundo a polícia, ele confessou a autoria de 17 das 23 mortes investigadas em inquéritos abertos desde 1991. Sem advogado de defesa, o depoimento do mecânico foi acompanhado pelo Ministério Público Estadual.

Entre os 17 nomes confirmados pela polícia com mortes atribuídas a Francisco das Chagas de Brito, estão os de Eduardo Rocha da Silva, 10, Raimundo Nonato da Conceição Filho, 11, mortos entre 7 e 9 de junho de 1997, nas matas da Vila São José, no município de Paço do Lumiar.

Os crimes foram denunciados por ONGs (organizações não-governamentais) do Maranhão à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Raimundo Cutrim, gerente de Segurança Pública do Maranhão, disse que o mecânico iniciou as confissões na noite de sexta, depois que a polícia localizou em sua casa, na periferia de São Luís, duas ossadas enterradas.

Uma delas foi identificada por Domingos Ribeiro como sendo de seu filho Daniel, 4, desaparecido desde fevereiro de 2003.

"Falta ele assumir ainda três mortes, mas, com a confissão em detalhes das 17 mortes, acredito que o caso está elucidado. Vamos trabalhar agora na reconstituição das mortes", afirmou o delegado Cutrim.

Investigando as mortes dos garotos emasculados desde 1997, Cutrim afirmou que apenas três mortes, que somariam o total das 23 registradas no Maranhão, não seriam de autoria do mecânico. A polícia investiga indícios de que Francisco das Chagas seja necrófago (se alimenta de cadáveres).

A confissão do mecânico pode desdobrar investigações abertas em Altamira (PA), onde ele morou de 1989 a 1993. Mas, segundo Cutrim, até o momento não há relação com o caso naquela cidade que envolve Valentina de Jesus, acusada por mortes de meninos na cidade paraense e absolvida em recente julgamento.

Ainda de acordo com Cutrim, as conclusões de novas apurações podem até inocentar pessoas que cumprem pena pelos desaparecimentos de garotos no Maranhão.

Pista

A polícia começou a cruzar o nome de Francisco das Chagas de Brito com as mortes dos garotos emasculados quando ele passou a ser o suspeito da morte de Jonahtan dos Santos.

"Quando o Jonahtan saiu de casa, ele disse que ia encontrar o Chagas", afirmou o delegado Raimundo Cutrim.

Jonahtan desapareceu de casa com uma bicicleta no dia 6 de dezembro passado. Quinze dias depois, o corpo foi encontrado enterrado numa estrada. Segundo a polícia, os demais garotos, entre 9 e 15 anos, morreram no Maranhão de forma semelhante: os corpos com sinais de tortura e órgãos genitais retirados.

Segundo Cutrim, a polícia só começou a questionar o mecânico sobre as outras mortes após a realização de uma perícia minuciosa, que contou com a realização de mapeamento de GPS (sigla em inglês para sistema de posicionamento global) e fotos aéreas.

O mapeamento identificou as localidades onde eram encontrados os corpos dos garotos, sempre a 50 m ou 200 m dos endereços onde o mecânico morou, na periferia de São Luís.

Um laudo do médico Hamilton Raposo traçou o perfil psicológico de Francisco das Chagas de Brito, segundo o qual o mecânico "apresenta uma psicopatia, não tem senso de autocrítica nem de culpa, e possui homoerotismo voltado para o infantil".

 
 


 

Francisco das Chagas condenado a 20 anos de prisão

Glaucio Ericeira e Suzana Beckman - Jornal Imparcial

26/10/2006

O maior serial killer foi considerado semi-inimputável e teve a sua pena reduzida em um terço. Promotoria diz que novos julgamentos acontecerão no primeiro semestre de 2007

Depois de três dias de julgamento, o mecânico de bicicletas Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, 41, foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão por homicídio duplamente qualificado, cuja vítima foi o adolescente Jonnathan Silva Vieira, 15.

Esta foi a primeira condenação de Chagas. Ele é acusado, ainda, de assassinar e emascular outros 41 garotos – 29 na região da Grande São Luís e 12 em Altamira, no Pará – com idade variando entre 4 e 15 anos. Os assassinatos ficaram conhecidos internacionalmente como caso dos meninos emasculados e colocou Chagas na posição de maior assassino em série do país.

Somente na Comarca do município de São José de Ribamar, onde aconteceu o julgamento referente ao caso Jonnathan, Francisco das Chagas responde a outros 14 processos. A previsão, de acordo com o promotor da 2ª Promotoria de São José de Ribamar, Samaroni Sousa Maia, é de que, neste primeiro semestre de 2007, o acusado seja julgado, de forma simultânea, pelo assassinato de pelo menos sete meninos. “Essa possibilidade existe porque foram assassinatos praticados em um curto espaço de tempo, no mesmo perímetro urbano e que, a exemplo do caso Jonnathan, o Ministério Público possui uma vasta gama de provas contra o réu”, explicou.

Samaroni adiantou que nos sete processos que deverão ser julgados de forma simultânea o Ministério Público abordará a tese da semi-imputabilidade, a mesma usada no caso Jonnathan. Levando em consideração a sentença proferida ontem, no primeiro semestre do ano que vem Francisco das Chagas poderá ser condenado a mais de 144 anos de prisão.

SENTENÇA

A sentença de Francisco das Chagas referente ao caso Jonnathan só foi proferida às 3h30 da madrugada de ontem. A pena inicial seria de 32 anos: 29 pelo assassinato e emasculação de Johnnatan e mais três por ocultação do seu cadáver. Chagas, porém, é considerado semi-imputável, conforme foi constatado em laudos psiquiátricos emitdos no decorrer do processo.

Segundo esses laudos, Chagas teria transtornos sociais e de personalidade. Ele também tem dificuldades de entender ou demonstrar emoções. Isto é, embora capaz de entender que os crimes que praticou são errados, ele não consegue evitá-los.

Da pena que será comprida pelo ex-mecânico de bicicletas, 19 anos são pelo assassinato, e um ano e oito meses pela ocultação de cadáver. Toda a sentença deverá ser cumprida em regime fechado. A defesa chegou a solicitar a imputabilidade total de Chagas, para que este fosse internado numa clínica psiquiátrica.

Entretanto a defesa aceitou a tese do Ministério Público e anunciou que não vai recorrer da decisão. Ao final do julgamento, o advogado de defesa Erivelton Lago manifestou inclusive desejo de abandonar a defesa de Chagas.

O julgamento teve início na segunda-feira, 23, no salão de eventos do Sesi Araçagi, em São José de Ribamar. Este primeiro dia ficou marcado pelo posicionamento do acusado que resolveu dar uma nova versão para o caso. No depoimento prestado à polícia, Chagas havia dito que Jonnathan morreu após cair de cabeça de uma juçareira. No Tribunal do Júri, ele confirmou que havia estrangulado o garoto e atribuiu o fato a pertubações ocasionadas por situações de abuso sexual que ele havia sido vítima aos seis anos.

Mãe diz que o sentimento é de vitória

Rita de Cássia Gomes da Silva, 40, mãe de Johnnatan, estava exausta ao final do julgamento de Chagas. Quando foi lida a sentença da condenação, ela precisou confirmar o resultado: “Isso quer dizer que ele foi condenado, não é? Ele está indo para a penitenciária, não é?”, perguntava sem parar D. Rita à advogada Valdira Barros, do Centro de Defesa Pe. Marcos Passerini, entidade não-governamental que realiza o acompanhamento jurídico dos casos junto às famílias dos meninos emasculados.

Após a confirmação da sentença, Rita disse que o sentimento foi de vitória. Na manhã seguinte ao julgamento, mesmo com a fisionomia cansada, era visível a mudança que se operara nela, que pela primeira vez sorria ao dar entrevista. E foram muitas. “Desde que amanheceu o dia que não me deixam dormir, toda hora chega um repórter e me acorda”, reclamou ela. Ao comentar o resultado, ela chegou mesmo a brincar em alguns momentos. “O doutor Erivelton estava muito chato, não queria que ele [Chagas] fosse condenado. Mas não teve argumentos suficientes”, disse.

Rita não acompanhou o primeiro dia do julgamento porque foi arrolada como testemunha da acusação, e teve que permanecer isolada até depor. Após o seu interrogatório, porém, ela acompanhou o julgamento até o fim, e se disse satisfeita com o resultado, embora esperasse uma pena maior. “Eu queria que fosse maior [a pena de Chagas], mas ele foi condenado. Era isso que eu queria e consegui. Estou me sentindo vitoriosa”, garantiu ela.

Rita de Cássia disse ainda que espera que o seu sentimento de alívio se estenda às outras mães. “Elas me apoiaram, e eu vou fazer o mesmo com elas. A minha luta terminou. Mas agora começa outra, que é a das outras mães”, disse Rita. Apenas no Maranhão, Chagas ainda deverá passar por outros 29 julgamentos, de outras crianças também mortas e emasculadas. “Para nós, a justiça vai além da condenação do Chagas”

Ainda não há como prever qual dos 29 casos que restam será o próximo a ser julgado, nem é possível estipular uma data. Na concepção de D. Rita, a jutiça já foi feita. Para Valdira Barros, porém, muito ainda precisa ser feito. “Para a gente, a justiça vai além da condenação do Chagas. Temos que continuar atentos e monitorar a execução dos compromissos assumidos”, lembrou Valdira.

Os compromissos a que Valdira se refere foram assumidos pelo governo do Maranhão e pelo Estado brasileiro, depois que o caso dos meninos emasculados foi denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que processou o Estado Brasileiro por violação dos direitos humanos.

Como forma amigável de resolver a situação, as famílias das crianças passaram a receber uma indenização mensal de R$ 500, além da promessa de inclusão em outros programas sociais e de habitação do governo federal. O governo estadual ainda se comprometeu a construir uma escola, recuperar a delegacia da Raposa e criar um Centro de Perícias, que atualmente funciona no Centro de Proteção à Criança e ao Adolescente (CPCA), na Beira-Mar.

Segundo Valdira, as medidas têm também um sentido preventivo para a população. “Nosso objetivo é beneficiar não só os familiares, mas também toda a população das áreas afetadas. Ficou um clima de medo entre a população: entre as crianças, que não podiam nem sair para brincar, e as famílias, que não tinham para quem recorrer. Precisamos prevenir que outros crimes como esse aconteçam”, disse Valdira.

O prazo máximo para que todas as medidas sejam cumpridas termina em 15 de dezembro deste ano. Antes disso, porém, o Centro de Defesa deve encaminhar um relatório à OEA, relatando o andamento dos compromissos. Parece que D. Rita estava certa quando disse que uma nova luta começa agora.

Acusação prevalece. Defesa afirma que não vai recorrer

O embate entre acusação, representada pelos promotores Samaroni Maia, Carlos Henrique Brasil e Emanoel Soares, e o advogado do réu, Erivelton Lago, só aconteceu no início da madrugada de ontem. Os promotores sustentaram a tese vencedora da semi-imputabilidade. Ou seja, de que, mesmo possuindo transtornos de personalidade que resultam em um desvio de comportamento, Francisco das Chagas não é um doente mental e sabia o que estava fazendo com as suas vítimas. Ao longo de duas horas, os promotores apresentaram ao júri e as pessoas que acompanhavam o julgamento um vasto conjunto de provas, inclusive fotos dos meninos com os órgãos genitais extirpados. “Chagas é um predador. E como um bom predador agia dentro de um território totalmente traçado”, afirmou Emanoel Soares referindo-se ao perímetro onde aconteceram os assassinatos na região da Grande São Luís.

Samaroni Maia disse que o acusado agia de forma fria sempre com a certeza de que os seus atos nunca seriam descobertos. “O réu só errou em um momento. Se ele soubesse que a sua própria irmã tinha conhecimento de que, naquele dia 06 de dezembro de 2003, Jonnathan estava em sua companhia este garoto não teria morrido. Chagas só agia com a absoluta certeza de que ninguém tinha nenhuma pista sobre ele. É um assassino frio e calculista”.

Erivelton Lago tentou sustentar a tese de que o seu cliente possui problemas mentais. No entanto, a tese do advogado foi totalmente descartada durante o depoimento da psicóloga clínica forense, Maria Adelaide Freitas Caires, que é autora do laudo pericial sobre o acusado. Maria Adelaide disse que Chagas possui transtornos de comportamento, provavelmente em função dos abusos sexuais que afirmou ter sido vítima na infância. Porém, negou que o réu tenha problemas mentais. Após o julgamento, Erivelton Lago disse que não recorrerá da sentença.

Irmã de mecânico fala que sofreu muito

A irmã do mecânico Francisco das Chagas, Maria Eliana de Brito, 42, foi a primeira testemunha a prestar depoimento na tarde de terça-feira. Temendo algum tipo de represália, Eliana, que foi escolhida como testemunha pela defesa do réu, prestou depoimento usando um capuz. “Quando descobriram que o Chagas havia matado o Jonnathan eu sofri muito. As pessoas do bairro [Jardim Tropical I] me discriminavam. Cheguei até a receber ameaças de morte, o que fez com que eu vendesse a minha casa e saísse do bairro. Por este motivo, tenho medo de sofrer ameaças novamente”, explicou.

Maria Eliana confirmou algumas informações fornecidas pelo próprio Chagas em seu depoimento prestado na segunda-feira. Disse que a sua avó, Maria do Carmo Furtado, que criou Chagas quando este era criança, era uma mulher muito rígida e que usava de violência para punir os quatro netos que criava num povoado do município de Caxias.

Eliana afirmou que conheceu Carlito, o homem que, segundo Chagas, abusou sexualmente dele aos seis anos. De acordo com ela, Carlito morava na casa da sua avó e a ajudava nos serviços domésticos. A testemunha, no entanto, afirmou desconhecer o fato de que o seu irmão havia sido abusado sexualmente quando criança. “Chagas morou comigo, no Jardim Tropical, alguns meses. Ele nunca me contou nada disso. Ele era uma pessoa calada. Depois ele conseguiu construir uma pequena casa e se mudou”.

Maria Eliana confirmou que conhecia Jonnathan e a sua família. Disse que tomou conhecimento do desaparecimento do menino através de uma vizinha sua, identificada pelo nome de Zefa. “No dia que o menino desapareceu, Zefa chegou lá em casa, já por volta das 18h, comunicando o fato e dizendo que as pessoas estavam comentando que o Jonnathan estava na companhia de Chagas. O meu irmão esteve neste mesmo dia na minha casa pedindo sabão para lavar roupas. Quando soube desta história [desaparecimento do garoto] fui atrás do Chagas e disse para ele ir até a casa da família do Jonnathan contar o que tinha acontecido”. Segundo ela, naquela oportunidade, Francisco das Chagas negou que tinha estado com o garoto.

Chagas possui desvio de caráter, diz psicóloga

Segunda e última testemunha escolhida pela defesa do réu para prestar depoimento na terça-feira, a psicóloga Maria Adelaide Freire Caíres disse que Francisco das Chagas possui transtornos de personalidade que resultam em um desvio de comportamento. “Apesar de possuir as suas capacidades de entendimento e autodeterminação diminuídas, Chagas não é um doente mental. Ele sofreu um trauma [abuso sexual] quando criança, fato que, de alguma forma, influenciou o seu comportamento. Avalio que os assassinatos que ele confessou tenham mais caráter místico do que sexual. É como se cada vítima que ele matasse, matasse a própria dor que teve. Ele se salva e salva o outro do sofrimento”, comentou Maria Adelaide, que elaborou laudo psicológico sobre a personalidade do acusado.

O depoimento de Maria Adelaide durou mais de cinco horas. Ela foi, por diversas vezes, questionada pelos promotores Samaroni Maia e Carlos Henrique Brasil e pelo advogado Erivelton Lago.

Maia, em um dos seus questionamentos, quis saber se Chagas era doente mental e se não tinha ciência das barbaridades que havia cometido. A psicóloga voltou a afirmar que o acusado possui desvios de comportamento em função do trauma sofrido na infância. “Doente mental ele não é. Agora a sua culpabilidade quem definirá são os jurados”.

GOVERNO FEDERAL

O assessor da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Omar Klich, acompanhou os dois últimos dais do julgamento de Francisco das Chagas. De acordo com ele, o Estado brasileiro tem até dezembro para cumprir o acordo firmado este ano na comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA). “Parte do acordo já foi cumprido. As pensões para as famílias das vítimas maranhenses estão sendo pagas. O governo do Maranhão também já começou a implantar alguns projetos sociais na região onde aconteceram os casos. Porém, falta ainda construir um conjunto habitacional e algumas escolas nesta região”, disse.

VÍTIMAS DE CHAGAS

1) Alexandre de Lemos Pereira
2) Antônio Reis Silva
3) Bernardo da Silva Modesto
4) *Bernardo Rodrigues Costa – corpo encontrado nas matas de S.J.Ribamar
5) Carlos Wagner dos Santos Sousa
6) *Daniel Ferreira Ribeiro – corpo encontrado na Vila José Reinaldo
7) *Diego Gomes Araújo – corpo encontrado na Vila José Reinaldo
8) Edivan Pinto Lobato
9) Eduardo Rocha da Silva
10) Evanilson Cantanhede Costa
11) *Hermógenes Colares – corpo encontrado nas matas de Santana
12) *Ivanildo Povoas Ferreira – corpo encontrado na Maiobinha
13) Jailson Alves Viana
14) Jonnathan Silva Vieira
15) *Josemar de Jesus Batista – corpo encontrado no povoado Santana
16) *Julio César Pereira Melo – corpo encontrado nas matas de Ubatuba
17) Laércio Silva Martins
18) Nerivaldo dos Santos Pereira
19) *Nonato Alves da Silva – corpo encontrado nas matas de Ubatuba
20) Rafael Carvalho Carneiro
21) *Raimundo Luís Sousa Cordeiro – corpo encontrado nas matas de Santana
22) Raimundo Nonato da Conceição Filho
23) *Ranier Silva Cruz – corpo encontrado no Paranã
24) *Welson Frazão Serra – corpo encontrado na Vila Jair
25) *Alexandre dos Santos Gonçalves – corpo encontrado São Brás dos Macacos
26) *Sebastião Ribeiro Borges – corpo encontrado matas de Santana
27) Jondelvanes Macedo Escócio
28) Emanoel Diego de Jesus Silva
29) Não identificado
30) *Não identificado – corpo encontrado no Araçagi

Vítimas eram dos municípios de São Luís, São José de Ribamar e Paço do Lumiar.

*Casos que aconteceram em São José de Ribamar

Fonte: Centro de Defesa Marcos Parcerini

 
 

42 histórias de horror

Como funciona a mente de um maníaco acusado de ter violentado, emasculado e estrangulado dezenas de crianças no norte do país

Marco Bahé, de São Luís
Com Juliana Arini

RevistaEpoca.globo.com

Os olhos são mansos. A pele é morena clara e o corpo franzino, de apenas 1 metro e 62 centímetros de altura. Nada assusta no mecânico Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, de 38 anos. Mas ele é, possivelmente, o maior assassino em série da história brasileira. É acusado de ter violentado, assassinado e mutilado 42 meninos durante 15 anos no interior do Pará e na capital do Maranhão, São Luís.

Na madrugada da quarta-feira, foi condenado a 20 anos e oito meses de reclusão por apenas uma das mortes, a do menino Jonnathan Silva Vieira. Os outros assassinatos ainda irão a júri. São mais 41 histórias de horror a ser contadas.

Chagas é acusado de ter espalhado terror pelo norte do Brasil. Nascido no interior do Maranhão, morou na cidade paraense de Altamira. Aos 21 anos, teria começado a matar. Em Altamira, teriam sido 12 garotos. Outros três sobreviveram, arrastando-se da mata ensangüentados. Mas ficarão marcados para sempre pela emasculação.

Depois, de volta a seu Estado natal, Chagas foi morar na capital. Instalou-se numa área de moradias populares conhecida como Jardim Tropical. Atacava pela vizinhança. Teria começado em 1991. E teria seguido, sem levantar suspeitas, durante oito anos.

Uma das vítimas, o menino Daniel Ferreira Ribeira, de apenas 4 anos, foi retirado de dentro de casa enquanto o pai dormia. Chagas chegou a atuar como voluntário na reconstituição realizada pela polícia. "Era para meu filho estar agora com 7 anos", diz Mônica Regina Ferreira, mãe de Daniel. "Essa dor eu vou levar comigo para sempre."

Chagas só foi preso em dezembro de 2003, após a morte de um garoto de 14 anos que morava perto de seu trabalho. Ele havia chamado Jonnathan Silva Vieira para catar açaí na mata. Antes de sair, o menino avisou à irmã mais velha para onde e com quem iria. Quando a polícia começou a investigar o desaparecimento de Jonnathan, Chagas tornou-se o principal suspeito.

Em sua casa, os investigadores descobriram cadáveres de outras vítimas, inclusive Daniel. "Com o julgamento, minha luta chegou ao fim", diz Rita de Cássia Gomes da Silva, mãe de Jonnathan. "Já posso pensar em reconstruir minha vida. Nesses quase três anos, perdi meu emprego de cozinheira, pois não conseguia fazer mais nada. Agora, quero me mudar daqui. Esse sempre foi o sonho do Jonnathan, que eu não consegui realizar quando ele estava vivo."

No início, ninguém imaginou a possibilidade de assassinatos em série. "Trabalhamos com as hipóteses de tráfico de órgãos, magia negra e até ações de terror", diz o promotor de Justiça Samarone de Souza Maia, que atuou na acusação no caso de Jonnathan. "A lição para mim é que o sistema judicial brasileiro não está preparado para esse tipo de criminoso."

Para começar, a polícia teve dificuldade em provar a culpa de Chagas em todas as mortes com características semelhantes. Recorreram à pesquisadora Ilana Casoy, do Núcleo Forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. Ela traçou o perfil psicológico do provável homicida e comparou-o com o de Chagas.

Os especialistas afirmam que cada assassino em série tem uma marca própria. Sua assinatura. (Atenção. Aqui serão descritas algumas atrocidades. A história pode ser seguida a partir do próximo parágrafo, sem prejuízo do entendimento.)

A assinatura dos homicídios de Chagas era a emasculação das vítimas - sempre meninos, de no máximo 14 anos. Segundo os peritos, ele extraía os órgãos genitais dos meninos com uma faca. Antes estrangulava os meninos até que desmaiassem e abusava sexualmente deles. A morte se dava no estrangulamento ou depois, por hemorragia.

Segundo o inquérito policial, Francisco levava os garotos para matas fechadas, convencendo-os a colher frutos ou caçar passarinhos. Depois de matá-los, realizava um estranho ritual. Com um cone feito de folhas verdes, coletava sangue no ferimento da emasculação. Caso fosse necessário, fazia novos furos no corpo até encher o cone. Desenhava uma cruz no chão e a cobria com o sangue do menino morto. O órgão masculino era envolto num pedaço da camisa da vítima e jogado na água. Podia ser um rio, lagoa ou mar. Não raro, pequenos pedaços do corpo também eram amputados: orelhas, dedos, panturrilhas, mãos ou mamilos. O cadáver era coberto com folhas de tucum, sempre tucum - uma espécie de palmeira espinhenta comum na região.

As características do crime indicam a atuação de um doente. Ele afirma que escutava vozes e via um ser branco flutuando a cerca de 40 centímetros do chão a mostrar sua próxima vítima. Mas testemunhas contam que Chagas não fazia o tipo esquisito. "Era querido na vizinhança pobre onde morava", diz a psicóloga Maria Adelaide de Freitas Caires, também do Núcleo Forense do HC. Ela fez o laudo psicológico de Chagas. "Solícito, ele levava os doentes aos hospitais, comprava remédio, ajudava a limpar o terreno do vizinho. Já tinha se candidatado a presidente da associação dos moradores quando foi descoberto", afirma.

A psicóloga atestou que Chagas tinha, até certo ponto, consciência de seus atos. Por quatro votos a três, o júri o considerou semiimputável. Isso significa que ele é juridicamente responsável por seus atos, mas pode ter redução de até dois terços da pena. O juiz concedeu-lhe redução de um terço. Não fará muita diferença, porque as penas são cumulativas e os próximos julgamentos devem garantir que Chagas passe o resto de seus dias na prisão. "A gente está unida, todas as mães", diz Mônica Ferreira, mãe de Daniel. "Vamos fazer o que for preciso para deixar esse assassino apodrecer na cadeia."

O que faz uma pessoa solícita e querida em sua comunidade cometer atos monstruosos? Segundo os especialistas, não há explicação. Os assassinos seriais são um fenômeno mundial. Fazem-se filmes sobre eles, como O Silêncio dos Inocentes, de 1991, vencedor de cinco Oscars. Mas ninguém os entende. "Eles não se classificam como psicopatas, depressivos, nem nenhuma das patologias conhecidas", diz a psiquiatra Ilana Casoy. "Ainda há pouco estudo sobre eles."

Mesmo assim, a infância de Francisco sugere algumas respostas. Menino pobre, o caçula de cinco filhos de agricultores, ele perdeu a mãe aos 4 anos. Foi criado pela avó materna, que lhe dava surras com cipó, segundo ele e uma irmã. "A avó colocava um papel na parede onde ia anotando os atos merecedores de castigo. Quando chegavam a oito, o próprio garoto tinha de ir na mata buscar o cipó com o qual seria surrado", diz a psicóloga Maria Adelaide. Chagas afirmou durante o julgamento que sofreu abuso de um rapaz 15 anos mais velho, que a avó levou para dentro de casa. Isso teria ocorrido pelo menos três vezes.

O abuso teria contribuído para o desvio de personalidade de Francisco? Ilana Casoy diz que sim. "Em mais de 80% dos casos de criminosos em série houve abuso sexual na infância." No caso de Chagas, as vítimas tinham sempre as mesmas características - físicas e sociais - que ele um dia teve. Eram meninos franzinos e pobres. "Em cada vítima, Chagas via a criança que foi", diz Maria Adelaide. "Ele queria matar o próprio passado."

Chagas afirma que nunca sentiu remorso pelos assassinatos. Nem tinha pena das vítimas ou de suas famílias (leia a entrevista). As declarações de que ouvia ordens de uma voz seriam uma forma de ele responsabilizar alguém, uma força superior, pelo que fez. "Fica mais fácil viver consigo mesmo", diz Ilana.

Outra característica de Chagas é a inteligência. Ele concluiu apenas a primeira parte do ensino fundamental (a antiga 4a série primária). Mesmo assim, fala com desenvoltura e um universo vocabular acima da média de seu grupo social. O teste de coeficiente de inteligência (QI) indicou pontuação de 105 - um nível considerado excelente para quem tem seu histórico.

Os policiais dizem que Chagas fazia uma espécie de jogo com eles. Seus relatos sobre as mortes seguiam um ciclo de evolução. Primeiro, ele dizia não se lembrar de nada. A cada descoberta do inquérito com que era confrontado, afirmava: "Aí, você me pegou nessa". E dava uma nova informação como "prêmio" aos investigadores.

Os psicólogos não têm dúvida de que ele tenha matado todos os 42 meninos. Citam a "assinatura" peculiar de cada homicida em série. E afirmam que ele não só assumiu os homicídios como identificou os locais das mortes e forneceu detalhes que só poderiam ser descritos por quem participou delas. "Na localização dos corpos, a diferença entre os locais apontados por Chagas e os que foram levantados nas perícias era de apenas 50 centímetros", diz o promotor Maia. Isso levou à revisão de processos antigos. Cinco pessoas haviam sido presas pelos assassinatos no Maranhão, e uma delas tinha sido condenada. Os processos foram revistos.

Mas o caso não está encerrado. A polícia do Pará não aceita as conclusões dos maranhenses. Lá, o caso é tratado como uma série de 19 vítimas, entre mortes, mutilações e tentativas de violação. Há um processo que julgou sete acusados e condenou seis deles por matar os garotos e mutilá-los em rituais de magia negra. Eles faziam parte de uma seita chamada L.U.S.

A presidente da seita, Valentina de Andrade, autora do livro Deus, a Grande Farsa, foi a única absolvida. Hoje, vive na Argentina, onde fica a sede da seita. Dos seis condenados, dois estão presos, três fugiram e suspeita-se de que um deles esteja morto. "Francisco Chagas é uma farsa", afirma Rosa Pessoa, presidente da associação dos familiares das vítimas e mãe de um dos meninos mortos no Pará. "Acreditamos que ele possa fazer parte do grupo que matou as crianças. Mas ele nunca poderia ter agido sozinho. O que está se querendo fazer é acobertar os poderosos", diz. Ela se refere a dois médicos e uma empresária suspeitos dos assassinatos.

O que reforça a tese dos paraenses é que houve pelo menos cinco ataques parecidos em Altamira quando Chagas já estava no Maranhão. Levado a Altamira para ajudar a localizar os corpos de desaparecidos, ele indicou um local errado. "Só havia ossadas de animais no lugar que ele mostrou", diz Maria Raimunda dos Santos, tia de um dos meninos mortos. Ela integra um comitê em defesa da vida das crianças altamirenses, formado após a tragédia por parentes das vítimas.

Uma hipótese é que Chagas tenha tido contato com os membros da seita, aprendido sua técnica macabra e replicado os assassinatos no Maranhão. Chagas afirma que conhecia apenas de vista um dos condenados pelas mortes no Pará. "Ele é um dos culpados", diz Antônia Melo, do comitê. "O que as famílias querem é que todos os condenados sejam presos."

*****

Na prisão, Chagas diz sentir que Deus "ainda tem alegria" para ele Francisco das Chagas recebeu ÉPOCA no presídio de segurança máxima de São Luís, na cela isolada em que vive há nove meses. A direção da casa teme que os outros presos o ataquem, se tiverem contato com ele.

ÉPOCA - Foi justa sua condenação?

Francisco das Chagas - A Justiça está fazendo o trabalho dela e foi correta. Só que, no meu entendimento, é preciso julgar a pessoa pelo lado da solidariedade, pelo lado mais humano. Não só olhar pelo lado da maldade. O que aconteceu comigo pode acontecer com qualquer um. O "bicho" está lá fora solto. Nós todos poderemos ser tentados a qualquer momento.

ÉPOCA - Ao júri, você contou uma versão de uma infância sofrida, sem os pais, com maus-tratos e abuso sexual. Seu passado justifica os crimes que você cometeu?

Chagas - Eu não gosto muito de falar da minha infância. Ninguém gosta de falar de sofrimento. Eu não tive carinho de pai, atenção, aquele amor que a criança precisa. Com 4 anos meu pai se largou da minha mãe. Depois minha mãe morreu. Minha avó materna foi criar a gente. Eu fui uma criança que nunca teve o prazer de ganhar um presente. E desejaria que o povo brasileiro pudesse dar atenção a seus filhos. Quando eu tinha 6 anos de idade, minha avó chamou um rapaz para morar lá com a gente. Isso foi uma coisa que eu guardei, escondi da minha família. Por vergonha. Quando minha avó ia fazer compra na cidade, esse rapaz por umas três vezes abusou de mim. Eu contei essas histórias agora porque me perguntaram. Mas não quer dizer que as coisas que aconteceram sejam desculpa para o que eu fiz.

ÉPOCA - Qual era o sentido do ritual nas mortes que você praticou?

Chagas - Eu não sou homossexual. Eu me sinto muito revoltado quando me chamam disso. Eu gosto é de mulher, meu negócio é mulher. Isso aí não importa. Eu não praticava sexo com a vítima. Isso não é verdade.

ÉPOCA - A polícia achou sêmen seu...

Chagas - Isso não é verdade. Se fosse, eu dizia.

ÉPOCA - Como começaram as mortes?

Chagas - Eu nunca tive desejo de fazer mal a ninguém. Sempre fui uma pessoal normal. Quando eu tinha uns 20 anos, comecei a sentir aquela diferença em mim mesmo. Não tinha mais aquele amor. Existia uma voz que falava comigo, sim. As pessoas acham que isso é loucura. Mas não é.

ÉPOCA - Você se arrependeu?

Chagas - Quando eu estava naquela confusão, não sentia arrependimento de nada, não. As pessoas dizem: isso é um monstro. Mas isso que aconteceu comigo pode acontecer com qualquer um que está aí fora.

ÉPOCA - Você queria ser perdoado?

Chagas - Uma mãe lá no júri disse que podia até me perdoar, mas só depois de fazer picadinho de mim. Como é que uma pessoa dessa Deus pode perdoar? Deus deu seu único filho para o sacrifício. Se a pessoa não perdoa seu próximo, Deus não pode perdoar essa pessoa.

ÉPOCA - Se você não tivesse sido descoberto, voltaria a matar?

Chagas - Não sei. Acredito que não. Isso aí tinha uma determinação certa. Agora passou. Eu não sou uma pessoa má.

ÉPOCA - Se pudesse voltar no tempo, o que faria diferente?

Chagas - Eu ia ser uma pessoa tranqüila e feliz. Jamais ia fazer uma coisa má com ninguém, pois já sei a reação que existe quando a gente faz uma maldade. Eu sou uma pessoa que ainda pensa em ser feliz. Ainda quero ser um cidadão respeitador. E quero ser respeitado como as pessoas me respeitavam. Eu pensei em dar fim a minha vida. Mas uma coisa me disse que Deus ainda tem alegria para mim. Eu não vou recorrer da sentença. Só quero que Deus me dê outra chance.

 
 

FRANCISCO DAS CHAGAS

Ilana Casoy - SerialKiller.com.br


19 de fevereiro de 2004 - Recebi um e-mail do Delegado que preside o inquérito no Estado do Maranhão, Dr. João Carlos Amorim Diniz. Ele dizia estar investigando os casos dos meninos emasculados do Maranhão, que tinha um suspeito e que precisava aprender tudo o que pudesse sobre matador em série.

Liguei imediatamente para o Dr. Diniz. Sim, eu podia ajudar desde que ele me enviasse TODO material disponível sobre o caso. Uma semana depois, recebi laudos de local de crime, necropsias, relatórios de polícia e uma fita de vídeo com quatro horas de interrogatório gravadas com o suspeito.

O interrogatório de Chagas seguia o modelo padrão, que não é eficiente quando se trata de um psicopata. Eles não sentem culpa, não tem remorso e a capacidade de empatia é limitadíssima. O suspeito, de nome Francisco das Chagas Rodrigues de Brito, foi indiciado pela morte de Jonnathan Silva Vieira, que desapareceu em 06/12/2003 no povoado de Santana, São José do Ribamar, Maranhão.

Jonnatham freqüentava a oficina de bicicletas onde Chagas trabalhava (fazia bico) e comentou com sua irmã que foi convidado por ele para ir apanhar juçara (açaí) na mata. Chagas foi visto com Jonnathan no dia de seu desaparecimento. Também foi visto empurrando duas bicicletas na Estrada de Santana. Mesmo diante destas "provas circunstanciais", ele negava firmemente o crime.

No depoimento de Francisco das Chagas, percebia-se claramente que ele gosta de contar detalhadamente sua versão e não quer ser interrompido. Contou que uma de suas diversões prediletas era ficar sentado, à noite, jogando pedras em gatos. Afirmava que a polícia podia revirar sua casa que não ia encontrar nada; permanecia calmo e mantinha sua história. Seu tom é irônico e seu riso é cínico.

O bom moço disse para a polícia: "Doutor, se eu devesse eu tinha ido embora"; "To pagando por uma coisa que eu não fiz"; "Só Deus sabe que eu sou inocente"; 'Isso não pode estar acontecendo comigo, meu Deus!"; "Meu advogado é Deus", "Eu não sou doido da cabeça", "Um dia a verdade vem"; "Nunca matei ninguém na minha vida".

Observações da fita

1. É desembaraçado e representa o diálogo.
2. Ansioso para falar sua versão e justificar as negativas das testemunhas.
3. Quer adivinhar a resposta certa.
4. Nega enfaticamente ser homossexual.
5. Exige provas científicas de sua culpa (digital na bicicleta).
6. Ironiza a psicóloga, dizendo que só falta acreditar que ela lê a mente das pessoas.

Linhas de Investigação

1. Para cada crime, uma autoria diferente.
2. Órgãos genitais seriam usados em rituais de magia negra, terreiros de macumba e/ou seitas secretas.
3. Serial Killer

As Provas

1. Chagas foi visto com Jonnathan no dia de seu desaparecimento.
2. Chagas foi visto com duas bicicletas, sendo que uma delas seria a do menino desaparecido.
3. Chagas morou em Altamira/PA entre 1989 e 1993, época em que ocorreram os casos dos Meninos Emasculados de Altamira.
4. No ano de 1991, ocorre o primeiro caso em São Luís do Maranhão, no mesmo mês em que Chagas vem para esta cidade acompanhando uma cunhada doente. Ele só retornou para Altamira após o carnaval de 1992 (março).
5. Em 1994, Chagas passa a morar definitivamente em São Luís/MA.
6. Os locais onde Chagas morou são os mesmos locais onde ocorrera os crimes.
7. A baladeira do menino Sibá, feita com a borracha de uma chuteira, foi reconhecida pelo pai
8. Nos locais de encontro de cadáver foram encontradas algumas camisetas cortadas à 10cm da gola. Na casa de Chagas também.
9. Chagas residiu ou freqüentava a localidade onde ocorreu a maioria dos crimes de meninos emasculados. Os corpos foram encontrados sempre numa distância entre 50m e 200m de onde o mecânico morou.

Ilana Casoy no caso

Recebi material sobre 26 crimes contra crianças em São Luís. Trabalhando em conjunto com o Médico Legista e bacharel em Direito André Ribeiro Morrone, definimos apenas 23 como sendo da mesma autoria. Três casos foram excluídos.

Foi elaborado o perfil psicológico do tipo de indivíduo que cometeria estes crimes em série e confrontado como perfil psicológico de Francisco das Chagas. Concluímos que se tratava da mesma pessoa.

De acordo com o perfil de Chagas e do tipo de serial killer que estava em ação, havia uma enorme possibilidade deste assassino ter enterrado parte de suas vítimas em sua casa ou quintal. Pedi ao Dr. Diniz que efetuasse nova perícia na casa e foi requisitado novo mandado para que isso fosse possível.

Enquanto esperávamos ordem legal para procurar o "troféu" que Chagas levava de cada morte, supostamente ossos e roupas, foi solicitado ao Delegado Diniz que observasse Chagas em sua cela. Não posso relatar detalhadamente o que deve ser observado, para que outros criminosos não saibam o que devem ou não esconder, mas dentre outras coisas, sono REM, matutino/vespertino, masturbação compulsiva, etc.

Com base nestas observações, foi planejada uma estratégia de interrogatório a ser utilizada no momento em que estivéssemos de posse das provas científicas contra Francisco das Chagas.

Na quinta-feira, dia 25 de março, às 9 horas da manhã, recebi o telefonema do Dr. Diniz contando que havia encontrado três ossadas enterradas no chão da casa de Chagas, além de algumas roupas.

Durante várias horas, acompanhei as escavações por telefone, juntamente com o Dr. André Morrone. Ficou a cargo do Médico Legista do IML de SP orientar a perícia de São Luís sobre o acondicionamento das provas, para que nada se perdesse.

Neste mesmo dia à noite, conforme estratégia anteriormente planejada, Chagas começou a ser interrogado. Durante semanas, em trabalho conjunto com a psicóloga forense Maria Adelaide de Freitas Caires, foi feito o acompanhamento dos trabalhos, com mudanças de estratégia quando necessário. Francisco das Chagas confessou assim todos os seus crimes, mas afirmava não se lembrar o que acontecia durante os assassinatos.

Foram feitas as reconstituições dos assassinatos, uma delas acompanhada por mim pessoalmente. Chagas entrava na mata do local de encontro de cada cadáver e mostrava exatamente onde havia matado tal criança.

Os locais eram bem ermos e foi bastante difícil chegar até eles, pois se tratavam de mata fechada. Munido de GPS, o perito criminalístico Wilton Carlos Rêgo Ribeiro marcava então o local exato apontado por Chagas, que depois era comparado ao local apontado pelos peritos, por ocasião dos laudos de local. A margem de erro de Chagas, mesmo nos crimes mais antigos, era de 50 cm.

Chagas foi entrevistado por mim na Delegacia de Homicídios de São Luís, juntamente com o psicólogo forense Christian Costa. Começamos aqui a conhecer o homem por trás dos crimes.

Alguns relatos de Francisco das Chagas

Chagas - Bom, o que eu vi... é... Há alguns fatos que vocês precisam descobrir né.. Que aliás nem eu mesmo sei... isso que aconteceu... que aconteceu já... Nem eu sei direito. E... Fica uma coisa que me deixa ainda muito perturbado.

Ilana - É lógico.

Chagas - Esse negócio... Porquê que um negócio desses acontece comigo né. Porquê...

Christian - Você gostaria de entender também?

Chagas - Eu gostaria de entender, que eu não sei... Tem hora que até me fere até as palavras... Bom, pra dizer a verdade, o que mudou na vida foi só que... por causa disso aí é a mesma coisa que eu estar sozinho no mundo.

Christian - Você se sente só?

Chagas - É. Me sinto só.

...

Ilana - Você apanhou muito Chagas?

Chagas - Apanhei muito.

Ilana - Apanhava de quê? De cinta, de chinelo?

Chagas - Era de cipó mesmo de jatobá. Tirava assim aquele cipó de três pernas e tem que tirar a folha, porque se não tirasse a folha a velha (a avó de Chagas) mandava buscar outro. Ajoelhava nos pé dela e ela batia e se brigasse muito, se estrebuchasse muito ela... Daí dava no chão, pisava no pescoço e levantava a perna do moleque. Ela pisava no pescoço, estendia a perna e metia um tapa.

Ilana - De ponta cabeça?

Chagas - Era.

Christian - Ela batia aonde?

Chagas - Por onde pegasse. E aí quando.... depois... quando feria né, porque, às vezes, feria, e aí ela pegava e ia passar água de sal. Às vezes, eu quero que Deus perdoe isso né, porque por mim tá perdoado... Agora só que valeu, porque eu sempre foi uma pessoa que nunca pegou uma agulha de ninguém. Porque lá em casa quando a gente chegava com um brinquedo diferente ia deixar onde achou debaixo de tapa. Aí eu aprendi isso... Eu nunca peguei uma agulha de ninguém. Eu não sei, não me sinto bem...

Christian - Porque que ela batia?

Chagas - Ela batia porque naquele tempo a criação não era que nem hoje. Hoje em dia o filho não respeita mais o pai, o pai tá conversando com uma visita ele chega, toma a conversa, "foi assim e tal"... No meu tempo não era assim. Minha mãe tava conversando, se a gente dissesse "minha mãe, isso assim, assim", ela não dizia nada, só olhava com um olho ruim. Às vezes, chegava visita pra conversar com ela e a gente ia brincar bem longe pra não atrapalhar ela e nem passar pelo meio.

Reuniões e Palestras no Maranhão

Estive no Maranhão em maio de 2004. No dia 10/5, ministrei palestra sobre serial killers para o Ministério Público e em 11/5 foi promovida uma reunião fechada com os promotores de justiça e policiais envolvidos no caso dos meninos emasculados. Nesta ocasião, eu e o Dr. André Morrone explicamos como conectamos os casos destes meninos como sendo de uma só autoria e respondemos perguntas e dúvidas dos presentes.

Em sentido horário, a partir do alto: Ilana Casoy durante palestra no Maranhão, Dr. André Morrone apresenta o caso, Dr. Christian Costa fala sobre o caso, Público que lotou auditório faz anotações durante o evento.

Comentários - Meninos Emasculados - Altamira e São Luís

- Acredito que seja improvável o Chagas assumir qualquer crime não cometido por ele. Os serial killers têm uma característica: para eles, os rituais no momento dos crimes são como obras de arte que levam sua assinatura. Quando estive no Maranhão, um outro preso pediu ao Chagas que assumisse o assassinato de uma criança que ele havia matado. Chagas ficou muito indignado. E disse: "Eu não mato desse jeito. Não vou assumir nunca o seu crime. Você paga o seu e eu pago os meus". Ele se orgulha dos próprios crimes. E digo mais: ele não tem nenhum vínculo com os acusados dos crimes no Pará.

- É quase impossível existirem duas pessoas em dois locais, ao mesmo tempo, exercendo a mesma fantasia. O ritual que o serial killer utiliza é enraizado em fantasias de infância. Ninguém tem a mesma infância. Nem dois irmãos numa mesma família têm as mesmas fantasias. É muito difícil existir um assassino no Maranhão e outros no Pará agindo da mesma forma, no mesmo período. Os crimes em São Luís e Altamira são ligados tecnicamente.

- As vítimas têm o mesmo perfil de idade, de sexo, de aparência, de atividade. Todos eles vendiam bolo ou suquinho, e perambulavam pelas redondezas. São crianças pobres de periferia que sumiram da mesma maneira. Foram levadas ao mato para pegar frutas. É o jeito do Chagas operar. Antes dele aparecer, eu já havia concluído que os crimes nos dois Estados tinham o mesmo autor.

- Não vi os laudos dos crimes de Altamira, mas teoricamente e de acordo com as informações disponíveis ao público, tenho certeza de que se trata do mesmo assassino. Acho difícil ter outro agindo. Nos períodos em que as crianças morreram em Altamira, o Francisco das Chagas morava lá. Ou vivia no Pará e visitava São Luís com freqüência.

- O Chagas não assumiria crimes por vaidade e nem é necessário. Somente no Maranhão, ele assassinou e emasculou 30 meninos!

- O Chagas é um indivíduo sozinho. Apesar de casado e de ter irmãos, sempre foi solitário. Não tinha vida em grupo, não se relacionava. Como é padrão em vários serial killers, se acha melhor do que os outros. Ele guardou os crimes com muito cuidado, segredo. Tanto que nunca foi apontado como suspeito em 15 anos de ação. E só confessou porque foram encontradas provas científicas que o incriminavam. Ele não agiria em parceria.

- De certa forma, ele planejava. Provavelmente fazia uma seleção de vítimas, porque não é qualquer garoto que servia. Meninos muito grandes ou muito pequenos eram dispensados. A exceção foi o Daniel, de quatro anos, parente da mulher dele. Ele selecionava de acordo com a idade, com a classe social, com o tamanho e com o sexo. Agora, na hora dos ataques, o ato dele era incontrolável.

- Não sabemos ainda por que Chagas matava, mas ele foi uma criança abandonada pelo pai e pela mãe muito cedo. Foi entregue à avó para ser criado num lugar isolado, com quase nenhum relacionamento social. O isolamento costuma ser uma característica comum na infância e na adolescência de um serial killer. A avó dele tinha traços de sadismo e tudo indica que o Chagas era espancado com freqüência. E também torturado emocionalmente. A avó mantinha um papel na parede onde anotava as atitudes que ela achava merecerem castigo. Sempre que a soma chegava a oito, vinha a surra. Imagina o que se passava na cabeça de uma criança de cinco, seis anos quando a anotação atingia quatro ou cinco itens. Imaginar que a avó iria pega-lo pelas pernas, vira-lo de ponta cabeça, colocar o pé no pescoço dele e surra-lo com um cipó triplo que ele próprio era obrigado a cortar. Devia ser uma tensão enorme. Não há informações claras de que o Chagas tenha sofrido abusos sexuais, mas eles ocorreram em 82% dos casos de indivíduos que se tornaram serial killers.

 

 

 
 
 
 
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